Vila Meã merece mais: o olhar crítico de um vilameanense

Não podemos negar a estagnação, e até a regressão, que temos assistido em Vila Meã nos últimos tempos. Não é apenas uma questão política; são factos reais, visíveis a olho nu. É inadmissível que Vila Meã, com a localização privilegiada que possui, tanto em acessos ferroviários como rodoviários, esteja a caminhar para a decadência.

Hoje, Vila Meã é, na prática, uma terra onde se dorme sossegadamente, e pouco mais. Falta dinamismo, falta visão e, sobretudo, faltam infra-estruturas que dêem vida a esta vila que tem tanto potencial por explorar.

Falta de espaços de lazer e convivência

Não temos um parque de merendas. Não temos um verdadeiro parque de lazer. Não temos zonas pensadas para o convívio das famílias ou para atrair visitantes.
A vila carece de espaços públicos agradáveis, que convidem à permanência, à convivência, ao lazer e à prática de exercício ao ar livre, sempre com conforto e segurança.

É triste reconhecer que, com tanto espaço disponível e com a paisagem que nos rodeia, continuemos sem um único local digno para um piquenique em família, um fim de tarde tranquilo ou a prática de atividades físicas ao ar livre. Outras freguesias vizinhas, com menos recursos, conseguiram criar parques de lazer simples, mas funcionais e atrativos.
Em Vila Meã falta apenas vontade política e planeamento para fazer o mesmo, oferecendo às famílias um espaço digno ao ar livre, com zonas verdes, parque infantil, circuito de manutenção e áreas de exercício.

Uma praia fluvial com enorme potencial desperdiçado

A praia fluvial de Vila Meã é um dos nossos poucos ativos turísticos com verdadeiro potencial regional, especialmente pela sua proximidade privilegiada à estação ferroviária, que a liga diretamente aos urbanos do Porto. No entanto, o nosso empenho na sua valorização parece ser inversamente proporcional à sua importância.

Enquanto um investimento modesto e uma visão estratégica poderiam catapultar este espaço, continuamos a falhar no básico. O bar de apoio já existe, mas o terreno adjacente, que seria ideal para um parque de estacionamento digno ou para uma expansão da zona de lazer, foi recentemente transformado numa vinha. Esta decisão exemplifica a falta de planeamento e a incapacidade de priorizar o conforto dos visitantes e a atração turística.

Uma oportunidade gritante foi perdida nas obras de supressão da passagem de nível. Aproveitando as recentes intervenções da IP, a autarquia deveria ter exigido a negociação de um acesso pedonal direto da estação à praia fluvial. Esta ligação é absolutamente essencial para que os visitantes cheguem à praia de comboio de forma rápida e segura, sem depender do automóvel. Uma simples passagem bem estruturada e sinalizada faria toda a diferença na valorização turística, na mobilidade local e na afirmação de Vila Meã como destino de proximidade.

Obras ferroviárias e oportunidades perdidas

As obras ferroviárias em Vila Meã, incluindo a supressão de passagens de nível, representavam uma oportunidade única para melhorar a mobilidade, a segurança e a imagem urbana da freguesia. No entanto, como em tantas outras ocasiões, faltou visão e capacidade de negociação.

Nas contrapartidas dessas obras, poderia e deveria ter havido maior pressão política para garantir benefícios concretos para a população local.
Do lado de Real, o espaço libertado pelas intervenções ferroviárias poderia ter sido requalificado para estacionamento, algo muito necessário naquela zona.
Além disso, seria essencial que os passeios pedonais fossem prolongados, pelo menos até à antiga serração, criando um percurso mais seguro e contínuo para quem se desloca a pé nesta zona.

Estas são pequenas medidas, de custo reduzido, mas de impacto relevante na qualidade de vida e na segurança dos habitantes. É precisamente neste tipo de pormenores que se vê a diferença entre uma política que reage e uma política que planeia.

Turismo itinerante: uma oportunidade ignorada

O turismo itinerante está em forte crescimento. As autocaravanas multiplicam-se por todo o país e os viajantes procuram locais tranquilos, bem localizados e com serviços básicos de apoio.

Vila Meã podia, e devia, apostar numa ASA (Área de Serviço para Autocaravanas) junto à praia fluvial. Um espaço simples, autónomo e sustentável, equipado com energia, ponto de águas e recolha de resíduos, traria movimento, consumo local e visibilidade.
Poderia até funcionar de forma auto-sustentável, com uma pequena taxa de utilização simbólica. Seria uma forma inteligente de aproveitar o fluxo turístico do Porto e do Douro e colocar Vila Meã, de forma definitiva, no mapa nacional das viagens em autocaravana.

Caminhadas e percursos pedonais: o futuro passa por aqui

As caminhadas estão na moda, e as deslocações em transportes públicos também. Vila Meã reúne as condições ideais para criar percursos circulares com início e fim na estação, promovendo o turismo de natureza e de proximidade.

Pequenas rotas dentro da vila, complementadas por uma grande rota que ligasse as freguesias de Vila Meã, Travanca e Mancelos, poderiam colocar o nosso território no mapa do turismo ativo e sustentável. Estes percursos poderiam ser pedonais e cicláveis, permitindo que tanto caminhantes como ciclistas desfrutem da paisagem e dos pontos de interesse da região.
Imagine-se, por exemplo, o “Trilhos do Vale do Odres” ou um “Trilho dos Moinhos”, com sinalização, painéis informativos e pontos de interesse.

Com o envolvimento de associações locais, como a Movingland ou o Grupo de Jovens Vallis, Vila Meã poderia afirmar-se como um verdadeiro ponto de partida para percursos naturais e cicláveis. Estes projetos não só atraíam visitantes, como também dinamizariam o comércio local, valorizariam o património e reforçariam o orgulho da comunidade na sua própria terra.

Além disso, estes percursos poderiam agregar potencial económico significativo, estimulando a procura de dormidas em hotéis e alojamentos locais, assim como de refeições nos restaurantes ao longo dos trajetos. Desta forma, o turismo ativo deixaria de ser apenas uma atividade de lazer e passaria a gerar rendimento real para a comunidade.

Educação e planeamento: dormimos à sombra da bananeira

Até no que toca ao ensino, Vila Meã ficou para trás. Enquanto Travanca, com todo o mérito, avançou e construiu o seu centro escolar, nós ficámos a dormir à sombra da bananeira. Falhou-se na antecipação, falhou-se na ambição e, mais uma vez, perdemos o comboio.

O futuro constrói-se com educação e planeamento.
Precisamos de um espaço educativo moderno, bem equipado, com áreas verdes, segurança e transportes adequados.
O crescimento populacional exige visão, e não podemos continuar a depender do improviso.
Sem uma estratégia para atrair famílias jovens e garantir condições de ensino de qualidade, Vila Meã continuará a perder protagonismo.

Vila Meã precisa de acordar

Hoje, a verdade é dura mas simples: Vila Meã pouco tem para oferecer a quem vem de fora.
Tirando a praia fluvial na época balnear, não há pontos de atração, não há dinamismo, não há aposta clara no desenvolvimento local.

Falta cultura, falta vida, faltam eventos.
Temos história e nomes que deviam ser motivo de orgulho, como Augustina Bessa-Luís, e um património literário que podia ser mais explorado.
Com um pouco de imaginação, Vila Meã podia afirmar-se também como terra de cultura e poesia, com roteiros literários, eventos culturais e exposições regulares.

Definitivamente, paramos no tempo.
Fica a dica para os futuros autarcas: menos promessas, mais ação.
Vila Meã merece mais. E nós, vilameanenses, também.

Um novo sopro de esperança

Nestas eleições autárquicas, temos dois jovens a concorrer.
Vejo neles a esperança de fazer mais e melhor por esta terra que tanto amamos.
Que tragam consigo ideias novas, projetos concretos e a coragem de mudar o que está estagnado.

Que saibam ouvir, planear e agir com o coração e com a razão, por Vila Meã e por todos nós.
Talvez este seja o início de um novo ciclo, mais participativo, mais humano e mais orgulhoso daquilo que somos: vilameanenses com vontade de ver a nossa terra crescer e prosperar.

Por Márcio Rodrigues

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